Pandemia reforça o valor dos sindicatos

 

Nos últimos anos a grande mídia e várias correntes políticas propagaram informações e campanhas contra o movimento sindical. Estas campanhas, muito bem feitas, culminaram em grandes vitórias para os setores produtivos, como as decisões que colocaram fim a contribuição sindical e outras medidas que abalaram a estrutura dos sindicatos e os direitos dos trabalhadores.

Essas campanhas foram criadas propositalmente como o objetivo de reforçar o individualismo dos trabalhadores e acabar com as negociações coletivas, que são comandadas pelos sindicatos. Muitos trabalhadores acreditaram nessas informações e passaram a tratar os sindicatos que os representa como verdadeiros inimigos.

Sindicato para quê?

Essa era uma das frases mais pronunciadas por trabalhadores, que acreditaram na desmoralização imposta por àqueles que detém o poder econômico.

Sem dinheiro e sem apoio dos trabalhadores ficou difícil para o movimento sindical lutar contra governos e o uso de ferramentas de comunicação, marketing e publicidade, inacessível para muitas entidades sindicais. No entanto, o movimento sindical resistiu.

Escravagismo
Essa desmoralização, não ocorreu apenas no Brasil e na América Latina, mas em todo o mundo. Nos EUA e no Canadá as campanhas contra a existência dos sindicatos provocaram mudanças na legislação sindical. Foi nos EUA que surgiu o lema: “O Direito ao Trabalho”.

No entanto, esse “Direito ao Trabalho” esconde um processo escravagista, que objetiva acabar com os sindicatos para que não haja interferências na exploração da mão-de-obra.

Sem sindicato fica fácil obrigar o trabalhador trabalhar mais horas, sem ter que cumprir jornada de trabalho, sem décimo terceiro, férias e outros benefícios. Sem sindicato é possível negociar isoladamente com cada trabalhador e fazer valer a vontade do patrão.

Valorização dos sindicatos
Felizmente este cenário está mudando e essa mudança está começando justamente pelo EUA.

Recentemente o novo presidente americano Joe Biden afirmou em discurso que os “Estados Unidos não foram construídos por Wall Street, foram construídos pela classe trabalhadora, e os sindicatos construíram a classe trabalhadora. Os sindicatos colocaram poder na mão dos trabalhadores. Eles nivelam o jogo”.

Num vídeo divulgado pelo mundo, Biden deixa claro a importância dos sindicatos. (assista o vídeo aqui).

Exploração é “pecado”
Outra figura importante no cenário mundial, o Papa Francisco, também se tornou defensor dos sindicatos.

Na Cidade do Vaticano, durante um encontro de jovens, ele criticou a exploração capitalista, a injustiça social e os projetos políticos que retiram direitos da população. Na ocasião, a imprensa mundial divulgou a defesa do fortalecimento dos sindicatos, feita pelo Papa.

“Não existe uma boa sociedade sem um bom sindicato. E não há um bom sindicato que não renasça todos os dias nas periferias”, afirmou.

Na visão do Papa, o sindicalismo deve se comprometer a transformar o modelo econômico e, para isso, deve assumir seu compromisso com a justiça, os direitos, os trabalhadores e a periferia. O sindicato deve transformar “as pedras descartadas da economia em pedras angulares”, disse ele.

O Papa Francisco ainda disse que “o capitalismo do nosso tempo não compreende o valor do sindicato, porque esqueceu a natureza social da economia. Este é um dos maiores pecados”.

Segundo ele, “economia de mercado: não. Digamos economia social de mercado, como nos ensinou São João Paulo II”. O Papa foi ainda mais longe, classificou como “pecado” tratar a economia apenas como um meio de gerar lucros para poucos, ao invés de servir como instrumento de distribuição de renda, de vida digna e de justiça para todos.

Tempos de mudanças
A pandemia tem demonstrado que tanto o Papa como Joe Biden têm razão. Neste momento de tantas dificuldades às únicas portas que não se fecharam aos trabalhadores foram as dos sindicatos.

Prova disso são as mais diversas ações de solidariedade voltada aos trabalhadores comandada por entidades sindicais. Também temos presenciado negociações de sindicatos que impediram o desemprego em massa e um achatamento ainda maior dos valores dos salários.

Além disso, representantes sindicais usam horas de seus tempos em debates na procura de uma solução para os estragos causados pela pandemia. Nunca se debateu tanto os direitos dos trabalhadores.

Gostaríamos que essa conscientização dos trabalhadores, sobre a importância dos sindicatos ocorresse espontaneamente e não pela devastação causada pela pandemia.

Porém, neste momento, de maneira tão trágica os trabalhadores estão começando a entender que os sindicatos são os únicos instrumentos capaz de protegê-los.

O Sindalesp reforça aqui esta importância e lembra os servidores que sindicato não é um local, ou uma entidade – mas todos os trabalhadores. Sindicatos somos nós!

Inês Ferreira